Ecomuseu Municipal do Seixal / Núcleo Mundet
A partir de finais do século XIX, a margem sul do rio Tejo tornou-se um importante polo de desenvolvimento da indústria corticeira portuguesa. O Seixal, bem como os concelhos vizinhos, assumiu um papel particularmente relevante nesta industrialização e, em meados do século passado, o Município registava um número restrito de grandes fábricas de indústria transformadora, tornando-se um caso singular comparativamente com outros casos de concentração de produção industrial corticeira verificados no distrito de Setúbal.
Em atividade no Seixal, entre 1905 e 1988, a ampla ação da Mundet & C.ª, Lda., que se desenvolvia diretamente do produtor ao consumidor, a grande variedade dos produtos fabricados – sobretudo no sector rolheiro e decorativos – mostra bem a importância económica desta produção (vocacionada sobretudo para a exportação) e o grau de perfeição e progresso técnico atingidos pela indústria no Concelho.
Por outro lado, a grande concentração de mão-de-obra de trabalhadores que, direta ou indiretamente, laboraram em torno da cortiça: produtores, população rural corticeira, industriais, engenheiros, mestres e operários (em 1947, a Mundet empregava nas suas fábricas no Seixal, 2269 operários corticeiros), empregados de escritório, pessoal ocupado nos fretes terrestres e marítimos, agentes comerciais e exportadores, entre outros, ascendendo a milhares de pessoas empregadas no sector corticeiro, representando um elevado número de famílias residentes no Município cuja subsistência dependia da exploração da cortiça. A indústria corticeira assumiu assim grande importância no desenvolvimento económico, social, político e cultural do Seixal, dando origem a uma das mais fortes comunidades corticeiras do país e encontrando-se na génese daquelas que constituem atualmente importantes referências culturais e identitárias para o Município.
Com a deslocalização dos grandes interesses corticeiros para o norte do país, a partir da década de 1980 a desindustrialização tornou-se irremediável.
Desde a municipalização da Mundet (1996), o Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox – património imóvel e integrado – tem sido museologicamente gerido pela Câmara Municipal do Seixal, reportando à unidade orgânica correspondente à Divisão de Património Histórico e Museus - Ecomuseu Municipal.
Após obras de conservação e de musealização, em 1998 o Núcleo da Mundet do Ecomuseu Municipal do Seixal iniciou a sua abertura regular ao público, no Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox. Em 2000, depois de obras de requalificação, abriu também ao público o Edifício das Caldeiras de Cozer, que lhe fica próximo. Estes antigos espaços industriais constituem atualmente as áreas expositivas do Núcleo da Mundet, para o qual foram definidos os seguintes objetivos específicos:
• a divulgação da história e a transmissão das memórias da antiga fábrica, do núcleo urbano antigo do Seixal e das comunidades do Concelho e da região;
• a preservação, o estudo, a interpretação e a comunicação do património industrial, nomeadamente do acervo incorporado e museologicamente gerido;
• a promoção e a valorização do universo da cortiça na atualidade, nos contextos nacional e internacional, no sentido de alargar o espectro de públicos motivados para o conhecimento das suas realidades e do património cultural corticeiro.
A Câmara Municipal do Seixal tem vindo a preservar o conjunto, arquitetura e o equipamento integrado, de forma a potenciar a sua conservação e integridade física, mas também o reconhecimento, interpretação e transmissão do potencial intangível ligado às memórias e marcas inscritas no espaço, como contexto industrial, técnico e tecnológico singular.
A conservação e a valorização deste importante património industrial energético da Mundet, conservado in situ, visitável no seu contexto e inserido numa antiga unidade industrial corticeira patrimonializada, potencializa programas e iniciativas de natureza científica que podem proporcionar experiências e vivências contribuindo para o aumento do conhecimento e divulgação do universo cultural ligado ao mundo do trabalho, à indústria e tecnologia e ao património histórico energético.